Quantos andam aqui?

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Sinto, penso, acredito, creio, duvido, aceito.

Entro na sala.
Sinto-a cheia, não obstante as poucas, pouquíssimas, quase nenhumas, pessoas que lá se encontram.
Estou nervosa, consciente de cada traço do meu corpo, de cada cabelo fora do sítio, de cada estria que me rasga a pele, num movimento cruel e insensível ao que eu desejo.
Sinto os pares de olhos incisivos a pousarem sobre mim, num riso cruel, gozando do cenário que à sua frente têm.
Sei que tenho que me acalmar, mas não consigo.
O coração bate cada vez mais forte, e sinto as pequenas gotas de suor a formarem-se nas palmas das minhas mãos, que se entrelaçam sem que eu tenha sobre elas qualquer domínio físico ou motor. Sou eu ali, e sou eu fora de mim, a observar-me, a racionalmente tentar controlar as emoções que perpassam o meu ser emocional.
Não me consigo acalmar, a garganta começa a sufocar e já nem sei por que razão estou assim exposta, naquela sala minúscula, semi-vazia mas que sinto cheia.
Consigo ver os sorrisos dos que lá estão, consigo sentir o cheiro da superioridade que julgam ter em relação a mim, a superioridade física, a superioridade mental, a superioridade hierárquica.
Então...
Então tento falar. A minha voz não me responde.
Tento acalmar as batidas cardíacas. Acalma-te!, grito mentalmente para mim própria, sem que nenhum efeito se veja.
Não tenho outro remédio.
Uma vez mais, tenho que me colocar à prova e dispor de meros segundos, compridos como milénios, para me reencontrar.
Fecho os meus olhos e inspiro, não querendo saber se me observam ou não. Estou consciente de tudo, muito mais do que os que me rodeiam possam pensar. Mentalmente, penso que não há pessoas superiores ou inferiores, há pessoas. Mentalmente, penso que não sou inferior a ninguém.
Mentalmente, numa voz cortante, gravo a fogo no meu coração e na minha mente "eu sou capaz".
E então abro os olhos.
Enfrento o que me enfrenta, numa luta de igual para igual.
E venço.

2 comentários:

  1. Bem, tendo a honra (e responsabilidade hehe) de deixar o primeiro comentário, devia pensar muito bem e tal, mas não, cá vai, simples e directo: adorei! :) acho que transmite uma força fantástica e uma mensagem muito importante, que por muito que haja quem o teime em afirmar, na verdade e no fim de contas, somos todos iguais, somos apenas pessoas, e está no poder de cada um de nós, não deixar que alguém se instale numa posição hierárquica superior, a não ser que assim o aceitemos ou estivermos dependentes da pessoa.

    E sim, já me senti assim como tu descreves. Exactamente assim, e de notar que nem sempre consegui alcançar o mesmo final do teu texto. Mas felizmente é raro de acontecer.

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  2. Obrigada Elias =) Por acaso não é dos meus textos preferidos, mas a minha escrita anda um bocadinho enferrujada, e apenas tentei descrever uma sensação pela qual passo inúmeras vezes. Claro que alterei um bocadinho o final lol, porque eu nem sempre venço, mas gostei de o escrever assim :p

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