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terça-feira, 30 de março de 2010

Batalha perdida

Fecho os olhos.
Estou decidida a dormir, o cansaço que cobre o meu corpo é demasiado grande. Sinto as pernas dormentes, as costas doridas, os braços pesados, os olhos ardentes.
Fecho os olhos e quero dormir.
Mas o meu cérebro desperta. O corpo dorme, o cérebro e a mente estão acordados, activos, com energia a mais.
Fecho os olhos, e de repente acordo mais que durante as horas em que o sol brilha no meu dia. A minha mente vagueia, está atenta a cada galho que estala lá fora, a minha audição cresce e aumenta, ouve cada susurrar do vento em contacto com as árvores. Oiço o relógio silencioso que não tenho no quarto.
Oiço o tempo a passar. Entre cada segundo que o ponteiro inexistente bate, sinto a duração de um século.
Viro-me.
Quero dormir. Amanhã tenho de me levantar cedo, já sei que me vai doer a cabeça.
Fecho os olhos com mais força.
Tento adormecer o meu corpo. Forçar a insensibilidade. Digo para mim que os meus pés estão a dormir.
Mas a minha mente está desperta.
Quanto mais tento dormir, mais acordo.
Vou tentar outra abordagem.
Tento ficar acordada. Não adormeço.
Vou querer adormecer agora as minhas pernas. Milímetro a milímetro, centímetro a centímetro.
Não consigo.
Sinto-me desperta, concentrada, preparada para uma qualquer acção que ainda não identifico.
Este silêncio que me rodeia, no escuro da noite mais densa, é muito ruidoso e não me deixa dormir.
Acendo a televisão.
Tomo um calmante e abro um livro.
Cada vez o sono vai mais longe, cada vez estou mais cansada de lutar contra esta insónia que todas as noites me ataca.
Não consigo dormir.
Estou acordada, estafada, exausta, desperta.
A minha mente não se desliga do dia que passou.
Tento uma oração. Não resulta, estou tão cansada que me perco a meio.
Recomeço com a cantilena de quando era tão pequenina e tinha que decorar a tabuada. Digo a tabuada toda três vezes. É um erro, de cada vez que a digo estou mais desperta.
Tiro então o meu diário da gaveta, e escrevo, escrevo, escrevo.
Quanto mais escrevo, mais acordada estou.
Praguejo.
Tudo à minha volta é silêncio, um silêncio desesperante que me faz querer gritar de terror! Quero dormir!
Não consigo.
Estou cada vez mais desperta, estou cada vez mais acordada, cada vez falta menos para o despertador tocar.
Fora, começo a ouvir o canto dos primeiros pássaros da manhã.
O seu canto entranha-se em mim, faz-me desesperar porque só durmo no silêncio, e o silêncio não me deixou dormir nesta noite longa.
Cerro uma vez mais os olhos.
Desta feita para não deixar que as lágrimas de frustração me corram pela cara.
Estou cansada, tão cansada… e a minha mente ainda trabalha, não me dá um segundo de descanso.
Penso no meu local feliz, uma biblioteca, um livro, uma folha de papel e uma caneta, uma lareira, vejo o fogo a crepitar, sinto o calor dele a envolver-me, oiço a madeira ser lambida e afagada pelas chamas, aquele barulho tão característico de quando começa a estalar, a cor do fogo entra pelos meus olhos, afinal não é o fogo, são os primeiros raios de sol que entram pela minha janela, e eu estou cansada, tão cansada, e finalmente fecho os olhos, acariciada por essa luz morna do sol-fogo, e de repente o despertador toda.
A insónia venceu-me, nada dormi, levanto-me estafada desta batalha que perdi.
Há um dia de trabalho pela frente.

9 comentários:

  1. Muito bom!

    Adoro os teus textos!

    *Kiss*

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  2. Gostei muito da parte do "relógio inexistente"... e o título também tá bem escolhido... acho que conseguiste fazer uma boa descrição de todas as dificuldades que uma pessoa pode ter para adormecer quando sofre de insónias... Parabéns ;)

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  3. Quantas batalhas perdidas como esta não temos a longa das nossas, ainda que curtas, vidas. Estes actos de pensamento são muito bons. Cada vez que leio uma coisa tua (e começei pelas antigas) gosto mais. E sim, com diz o Elias, as insónias são uma coisa tramada.

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  4. Carlos: assim até me dás medo de continuar! lol, tenho medo de te vir a desapontar... . Muito, mesmo muito obrigada pela tua opinião! É muito importante sentir o vosso feedback ao que escrevo... Esta noite vou "cuscar" o teu blog ;)

    Beijinhos

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  5. Não tens de me desapontar com nada. Ambos somos bloggers e nem sempre escrevemos o nosso melhor. O importante é continuar escrevendo. Tb sei se te fizer um má crítica não te vou desenconrajar de escrever. São essas que nos vontade de continuar. Lol, tenho de seguir os meus próprios conselhos. Um beijinhos muito grande.

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  6. Exactamente =) Uma crítica construtiva é sempre excelente, ajuda-nos a superarmo-nos a nós próprios! =)

    Um beijinho para ti também =)

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  7. Mais um beijinho. E mais uma vez Obrigado eu pela tua simpatia.

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  8. Ora... n tens nada que agradecer =) Beijinhos!!

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