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quarta-feira, 24 de março de 2010

Um silêncio inexistente.

E de repente há este silêncio.
Que relação antagónica temos! Vejo-me rodeada por silêncio a todas as horas do meu dia, tendo por única companhia a minha própria mente.
O silêncio povoa-se então de ruídos, músicas, cheiros e sons. É um silêncio ruidoso, como se invadisse a minha cabeça, como se ele próprio, silêncio, não tivesse direito a existir em mim. É um silêncio que se auto-aniquila.
Outras vezes é um silêncio que eu quero combater, que eu quero cheio de batalhas e de vigores, e ele não acede aos meus pedidos. Ele manda, é silencioso ou barulhento consoante os seus próprios desígnios.
Controla-me, sendo uma bênção ou uma maldição.
Não existo sem ele - mas existirá ele sem mim?
E no fim do silêncio imposto de um dia de trabalho, desejo outro tipo de silêncio. O silêncio da paz, da meditação. E não o alcanço, não neste mundo ruidoso, acelerado, frenético.
Silêncio imposto... silêncio necessário... silêncio desejado... silêncio odiado... Quantas definições para uma palavra tão pequena.
Quantas relações possíveis!
O silêncio de um telemóvel que se quer a tocar; o silêncio que há num grito mudo de ajuda, presente em actos desesperados e olhares vazios; o silêncio que nos agonia por todas as vozes interiores que nos povoam...

Silêncio...

Por muito imposto que seja, nunca existe. Porque por mais sós que estejamos, estamos sempre conosco. E nunca nos calamos perante nós próprios. A nossa voz até poderá não funcionar, os nossos ouvidos até poderão não poder escutar os sons que nos rodeiam. Mas em consciência, dentro de nós, nunca há silêncio.

Ainda bem. Por quê? Porque é a prova de que estamos vivos.

Escrito para o desafio do mês de Março de 2010 da Fábrica de Letras, subordinado ao tema "silêncio".

7 comentários:

  1. Gostei muito. Auspicioso início :)

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  2. É esse estar connosco que me fascina e é por isso que gosto tanto do silêncio do mundo que me envolve.

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  3. Também tá bem interessante, e ao contrário do outro, tem uma mensagem positiva inerente...
    Mas deixa-me passar agora eu, só por uma vez, para o lado "escuro":
    É minha convicção de que o único verdadeiro silêncio total que existe, é um que já não conseguimos presenciar: é quando morremos...
    Por isso, as tuas palavras finais são bem verdadeiras... :)

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  4. Brown Eyes: totalmente de acordo =) O silêncio por vezes é de ouro!

    Elias: totalmente de acordo, também. Enquanto estamos vivos, nunca estamos totalmente silenciosos. Só quando morremos e a nossa alma parte...

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  5. Muito bom. Um excelente pensamento. Tou a gostar muito deste teu blogue. Vou ler todos os post e comentar. Será um prazer.

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  6. Carlos: muito obrigada pela tua opinião e pela tua visita. É um prazer e uma honra que venhas visitar o blog! =)

    Não tenho tido muito tempo/inspiração para o actualizar, mas quero ver se isso muda =)

    Beijinhos e espero que gostes!

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