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segunda-feira, 5 de abril de 2010

E o silêncio continua.... transformando-se num abismo

E ali estava. Novamente.
Sozinho no meio de uma multidão de silêncios diferentes e agudos.
Sem saber o que pensar, sem saber como agir, sem saber como interpretar tantas reacções contrárias e ambíguas.
Sem saber como ter coragem para enfrentar o que o futuro lhe reservava.
No meio de tanto silêncio, a sua alma ansiava por uma voz apenas. Por um contacto apenas.
E esse contacto não chegava.
Não podia saber que do outro lado da parede, ela se encontrava com o seu telemóvel, sempre, sempre, esperando, desesperando, vivendo enquanto definhava.
No mesmo silêncio abismal se encontrava ele, tão perto e tão longe dela, preso numa sala preta, sem janelas, com um ar bafiento e denso que não o deixava respirar, que o sufocava. Queria andar e não conseguia, o preto denso que inundava a sala era mais pesado que todo o peso do mundo concentrado nele próprio.
Abafava.
Sufocava.
Queria ir ao encontro dela, mas todo um mundo de convenções sociais os separavam. Esse mundo era a parede entre ambos.
Quais marionetas sem vida, presas pelo fio a um desconhecido manipulador, encontravam-se a escassos centímetros um do outro. Separados por uma parede. Uma parede maior que o mundo.
Uma parede negra de silêncio e desconhecimento.
Desesperavam pela companhia inatingível que poderiam proporcionar.
Ela, vivendo, definhava ao lado do telemóvel morto.
Ele, sufocando, queria romper aquele abismo denso e condensado, negro e faminto, gélido, que o separava dela.
E toda a distância entre ambos se reduzia a míseros centímetros maiores que o Universo.


Para a Fábrica de Letras, sob o tema "abismo".

Relaciona-se com a postagem "Um silêncio que dói", neste mesmo blog.

11 comentários:

  1. Falso abismo... para quê a preocupação?

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  2. Susana: uma vez mais, obrigada pelo teu comentário =) Posso perguntar-te falso porquê? Gostaria de saber a tua opinião =) Como já percebeste, este é apenas mais um desafio de escrita, sendo que tentei ligá-lo a um texto anterior, já que o tema do mês anterior foi "silêncio". Obrigada =) Beijinhos

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  3. Está aqui a outra metade que faltava, ao primeiro texto... muito bem, gostei... deixa-nos perceber um pouco melhor o verdadeiro dilema dessas personagens, e voltaste a conseguir criar um clima bastante intenso e sufocante, para me servir de palavras tuas ehehe...

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  4. E depois quem dá o primeiro passo? Eu sei que sou parva, mas só gosto de finais felizes e para mim nunca existe incompatibilidades e não deviam existir convenções sociais. Só o coração devia mandar. Adorei o texto, a tua escrita é fabulosa, cheia de emoção e ... está fabuloso. Beijinhos.

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  5. Olga: obrigada!! Não és nada parva. Eu também gosto de finais felizes, mas aparentemente não os sei escrever lol! Sim, só o coração devia mandar... mas infelizmente, e no caso destas duas personagens (que, volto a frisar, não representam ninguém em concreto), não foi isso que aconteceu. Talvez com o tema de Maio da Fábrica de Letras eu possa dar outro rumo a esta história! Muito obrigada pelo teu comentário tão simpático =) Beijinhos e volta sempre!

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  6. Johnny: obrigada =) Eu normalmente não gosto de abismos lol... e temo-os!! :p

    Beijinhos

    Rita

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  7. A sociedade em que vivemos é ainda nuito selectiva e continuam-se a criar abismos entre as classes sociais.

    bjs

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  8. MZ: totalmente, não tenhas dúvidas =) Há tantas coisas que se podem transformar em "abismos" entre dois seres... Obrigada pela visita, volta sempre que quiseres!! Beijinhos

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  9. Tão perto e tão longe ao mesmo tempo. Beijinhos e continua.

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  10. Carlos: creio que percebeste exactamente a mensagem que queria transmitir... tão perto e tão longe... =) Continuarei sempre que o tempo mo permita!

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